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    quinta-feira, 18 de maio de 2017

    Luisão: o retrato de quem o acolheu no verão de 2003


    Luisão: o retrato de quem o acolheu no verão de 2003

    Ricardo Rocha estava no plantel quando o brasileiro chegou à Luz e ainda hoje mantém uma amizade com o Girafa. Ao Maisfutebol recordou a sua chegada, a forma como se tornou um líder e comentou o nível que atingiu: «É uma lenda».


    No verão de 2003 chegou ao Benfica um jovem brasileiro proveniente do Cruzeiro, que se iria tornar numa das maiores figuras da história dos encarnados.

    Luisão, de 22 anos, foi um dos reforços do defeso para a equipa de José Antonio Camacho e ninguém, nem o próprio, imaginava o que o futuro de águia ao peito lhe traria.

    Os primeiros anos foram complicados, com poucos títulos, mas 14 anos depois o Girafa tornou-se o capitão do inédito «tetra» e subiu ao segundo lugar de jogador mais titulado da história do Benfica, a par de Coluna (18). Caso vença a Taça de Portugal igualará o líder Nené.

    São seis campeonatos, duas Taças de Portugal, sete Taças da Liga e duas Supertaças: um currículo invejável, ao qual soma 513 jogos com o emblema da Luz, o que equivale ao quarto lugar do ranking de mais utilizado.

    Para além destes números do Benfica, conseguiu ser internacional pelo Brasil 47 vezes (3 golos marcados) e venceu duas Taças das Confederações e uma Copa América.

    Ao longo de todos estes anos, Luisão teve vários parceiros no eixo da defesa. O primeiro, a par de Argel, foi Ricardo Rocha.

    O antigo defesa português conversou com o Maisfutebol sobre o parceiro brasileiro, que o impressionou de imediato apenas pela envergadura, e recordou os tempos iniciais do Girafa de águia ao peito.

    «Ficamos logo impressionados, era muito alto», começou por dizer por entre risos.

    «Já se falava muito do Luisão e vinha com boas recomendações do Brasil. Chegou com algum estatuto, com créditos, e estava em ascensão no Brasil. Sabíamos que vinha trazer qualidade ao plantel», contou.

    O início não foi fácil e o brasileiro só se estreou à quarta jornada e logo com um golo, no empate a três com o Belenenses. «Foi difícil no início a vida em Portugal, mas depressa se inteirou do país e conseguiu provar dentro de campo o seu valor. Fora de campo também, provou a excelente pessoa que é.»

    Ricardo Rocha afirma que Luisão mesmo vindo já com um certo estatuto quis aprender com quem estava e que essa vontade o fez triunfar: «Quis saber como tudo funcionava em Portugal e como era jovem quis aprender com todos e, assim, tornou-se numa referência no Benfica.»

    E como foi jogar ao lado de Luisão?

    «Muito fácil. O Luisão é um líder por natureza, incentiva muito, fala muito, controla tudo dentro de campo, o que é ótimo porque na defesa é preciso coordenação e sintonia e isso ele tem que chegue. No balneário é muito forte, quando é preciso chamar a atenção chama, sempre para bem do grupo e do colega. Acho que isso é um dos pontos fortes dele e que o fizeram conquistar tantos títulos e continuar ao mais alto nível.»

    Nessa primeira época Luisão não foi um titular indiscutível e para a Liga fez apenas 15 jogos. Apesar disso acabou a temporada com esse estatuto e venceu a Taça de Portugal, o seu primeiro título no nosso país, ao FC Porto de José Mourinho.

    Simão era o capitão, Nuno Gomes era também uma referência, mas Luisão já era um líder.

    «Havia jogadores como Simão e Nuno Gomes, que eram capitães e tinham um estatuto alto no Benfica, mas o Luisão sempre teve papel de líder que cai bem a um capitão. Sabia movimentar e mexer no balneário, sabia motivar e alertar os companheiros.»



    Por isso, a braçadeira era uma questão de tempo até ir parar ao seu braço e, atualmente, o Girafa é o jogador com mais jogos como capitão do Benfica.

    «O Luisão tem sido fundamental, ano após anos há jogadores que saem e entram e é preciso ter um líder no balneário, que saiba dizer aos jogadores o que é a mística do Benfica, que é algo que se sente. Ele é esse alguém que ensina aquilo que o Benfica é, que transmite a exigência dos adeptos», disse.

    A importância no crescimento dos parceiros e o confronto com os adeptos

    Nestes 14 anos de águia ao peito, Luisão teve muitos momentos marcantes, nem sempre positivos.

    O primeiro grande momento individual foi em 2005, no dérbi caseiro com o Sporting, um jogo decisivo para as contas do campeonato. Leões e águias entraram na Luz igualados na tabela com a vantagem no confronto direto a dar vantagem aos de Alvalade.

    Faltavam dois jogos e o Benfica precisava de vencer para passar para a frente, mas estava difícil bater a equipa de José Peseiro, até que Luisão, aos 83 minutos, superiorizou-se a Ricardo num livre indireto e colocou a equipa de Trapattoni com uma mão no título, depois confirmado no Bessa.


    A seguir a essa época começou o seu maior jejum de títulos nacionais, que acabou em 2009/10.

    Individualmente, os rumores da saída no mercado eram uma constante e em 2008, no Bonfim, envolveu-se numa confusão em pleno relvado com Katsouranis.

    Mais tarde, o grego afirmou que tudo não passou dali e que sempre se entendeu bem com Luisão. Ricardo Rocha diz que o brasileiro é um excelente membro de balneário.

    «É um apoio muito grande, aos brasileiros sobretudo. Para eles a língua é a mesma, mas é um novo país, que exige uma adaptação. Ele no balneário é excelente, um grande amigo e muito divertido.»

    Com os adeptos Luisão teve algumas picardias e alguns diálogos mais acesos, ainda que seja muito acarinhado pela torcida benfiquista.

    Sobre essas situações, Ricardo Rocha diz que é o papel de um «grande capitão»: «O Luisão é o capitão, tem que se defender a si próprio e aos companheiros desses assobios e pressão dos adeptos. Um líder e capitão é isso mesmo: defender quando tem que defender, quando acha que estão a ser injustos, ou até chamar a atenção dos companheiros.»

    «Os adeptos estando fora não conhecem e nem sabem o que passa com um jogador ou uma equipa em determinado momento da época ou em determinado jogo. Os jogadores querem sempre fazer o melhor, mas há dias em que as coisas não correm bem. O Benfica é esse clube gigante de exigência máxima e os adeptos querem sempre que o Benfica ganhe e jogue bem e nem sempre é possível», conclui sobre o tema.

    Em 2012 teve outro momento infeliz, quando empurrou um árbitro na pré-época, na Alemanha, depois deste expulsar Javi Garcia. Foi mesmo castigado dois meses pelo ato e teve que pagar uma indemnização a Christian Fischer.

    Só que estes momentos negativos não apagam nem beliscam a grande carreira de Luisão, que para Ricardo Rocha deu mostras de qualidade para jogar em clubes de outra dimensão. Essa permanência foi o que mais surpreendeu o antigo companheiro.

    «Foi surpresa porque, há uns anos, ele estava sempre no grupo da seleção brasileira, a fazer épocas excelentes no Benfica. Pensava-se época após época que havia clubes interessados e era estranho ele não sair, mas ele sempre teve uma relação próxima com o presidente Vieira e com os adeptos e esse facto de se sentir bem com o Benfica, em Lisboa e Portugal evitou que pudesse ir para outras paragens. Mas qualidade para ir para outros clubes ele tinha.»

    Luisão foi ficando e acumulando jogos, enquanto ao seu lado os parceiros iam saindo, alguns para grandes clubes e por valores significativos. Ricardo Rocha saiu para o Tottenham, Anderson para o Lyon, David Luiz para o Chelsea e Garay para o Zenit. Lindelof está agora entre os nomes para reforçar «tubarões europeus».

    Tem algum mérito ou segredo Luisão para esse fator?

    «Todos esses jogadores tiveram a oportunidade de sair, por isso o valor tem que lhe ser dado, porque é um excelente parceiro. É importante que os centrais tenham uma relação muito boa e eu joguei com ele vários anos e eu dizia que sabíamos jogar de olhos fechados, a maneira que um jogava o outro já sabia como compensar.»

    E completou: «O valor tem que ser dado ao Luisão, não saiu, mas tem um caminho brutal no Benfica e com este reconhecimento que todos lhe dão e com títulos que tem conquistado tornou-se uma lenda no Benfica.»

    A conversa com Luisão na Luz há duas semanas sobre a...idade

    Em 14 anos de Benfica, Luisão sofreu algumas lesões que o afastaram em determinados momentos da competição e que o impedem de estar ainda mais acima na história do Benfica.

    Por exemplo, na última época lesionou com o Sporting para a Taça de Portugal, partiu o braço, e teve que parar durante vários meses. Quando regressou Jardel e Lindelof estavam em alta e o capitão não recuperou o lugar.

    Esta época, aos 35 anos (36 feitos em fevereiro) recuperou lugar quando não era expectável, mesmo com duas lesões pelo meio, e é uma das figuras do ano. Para Ricardo Rocha não foi nenhuma surpresa ver Luisão manter o nível que nos habitou, independentemente da idade.

    «Não me surpreende porque passei pelo mesmo», iniciou a resposta.

    Depois revelou uma conversa que teve com o brasileiro há duas semanas no Estádio da Luz, após o triunfo sobre o Estoril.



    «Conversei com o Luisão na Luz há duas semanas sobre isso. Aqui em Portugal quando passámos dos 30 anos as pessoas dizem que somos velhos e nós temos a obrigação de provar que as pessoas estão erradas, mas só o conseguimos fazer em campo. É isso que ele tem feito, muito se falou de sair, que já não tinha hipóteses de jogar pela idade e pela lesão que o impediu de jogar, mas a verdade é que voltou bem, quer mentalmente quer fisicamente e está a fazer uma época excecional», contou.

    Por fim deixou votos de continuidade ao «velhinho», que era um jovem quando conheceu: «Espero que continue porque ele é muito importante na equipa e no Benfica enquanto clube.»



    in MaisFutebol

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